GARDÊNIA 52 ANOS ( 1960)
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Eu não vendo. Não vendo aquela
pulseirinha de ouro gravado com o meu nome que ganhei de meus padrinhos quando
nem sabia ler, nem tinha vaidade, acabava de vir ao mundo.
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Não tem preço minha boneca Gardenha
de cabelinho quase loiro e sapatinho vermelho com olhos que abrem e fecham, eu
não vendo e nem dou. Com ela faz par o Gurdes. Existe esse nome mesmo? Eu
batizei meu boneco que tem causas azuis e blusa branca de suspensório
preto pintados no corpo, quando eu tinha
meus cinco ou seis aninhos. Pesquisando agora no google descobri que gurde é a
unidade monetária no Haiti. Encontrei também algumas pessoas com o sobrenome
Gurdes. Não lembro de onde tirei esse
nome naquela época, mas eles estão comigo em perfeito estado.
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Eu não vendo e tenho ciúmes de
emprestar meu caderno de recordações com fotos e mensagens de amigos que estão
distantes, muitos deles nem sei mais notícias e alguns já partiram para outra
dimensão.
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Não tem moeda que pague o valor de
estimação da minha grinalda de flores de organdi branco com centro de pérolas e
arrematado com torçal de seda.
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Não vendo também o mandrião de
cambraia amarela bordado a mão com crivos e arremates em ponto cheio. Nem me
desfaço também dos sapatinhos de linha nem dos cueirinhos e algumas camisinhas
que vestiram meus babys e ainda conservo comigo.
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Eu compararia, daria qualquer preço
para adquirir meu primeiro livro de escola “O livro de Lili” de autoria de
Anita Garibaldi. O tempo destruiu apesar
do meu jeito cuidadoso.
.Também pagaria um preço alto para recuperar minha caixa de camisa com muitas fotos e recortes de jornais e revistas registrando o cotidiano de Jonh Kennedy Ronnie Von. Meus dois grandes ídolos. Hoje o que me restou desta feliz época foi um caderninha com todas as músicas de Ronnie escrita por mim a punho.
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Compraria minha coleção de chaveiro
e flâmulas se elas existissem, mas foram destruídas pelos meus filhotes que se
entretiam horas e horas espalhando todos no chão e observando a beleza dos
objetos que acumulei durante anos.
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Acho que todo mundo por mais
desprendido que seja tem alguma coisa que guarda consiga para relembrar de
forma mais concretas algumas passagens de sua vida. Eu já fiz a amostra das
coisas que relembro com saudades agora conte para mim quais as recordações e os
objetos que você não vende e nem troca ou quais o que você gostaria de comprar
se possível.
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GURDES 54 ANOS - 1958
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